Thursday, March 09, 2006

Carta a Nicholas

Escrevi esta carta ao Nicholas já faz um tempinho… Porque mencionei o fato dele ser meu presente há uns dias, achei que seria legal compartilhar a carta com vocês!

Era fevereiro, sábado, dia quinze. Ano de 2003.
Aquela manhã em Watertown havia chegado trazendo ainda mais frio. Dentro de casa e dentro do coração estava tudo bem quentinho, mas o vento cortava do lado de fora.
Dr. Estrella tinha dito que havia chegado a hora e que, de um jeito ou de outro você sairia daqui de dentro. Acordamos, colocamos nossas coisas dentro do carro e fomos para o hospital. Os pés da mamãe não cabiam mais dentro dos sapatos e, apesar da neve, foram as pantufas pretas as únicas coisas que serviram. Paramos para tomar café num restaurante da Main Street e depois seguimos viagem. Durante o caminho a paisagem era branca e eu ia olhando pra neve e pensando em você, que logo estaria nos meus braços, como um presente, como um milagre!
O sábado foi longo e, apesar das tentativas, você não quis chegar. Acho que pensou melhor e resolveu aproveitar mais um pouquinho daquele aconchego, do seu cantinho, do seu mundinho. Com certeza estava apertado, mas você não se importou e ficou por mais um tempo.
Nós dormimos.
A nova manhã chegou e, apesar de não ter espantado o frio, trouxe um sol maravilhoso, brilhante, um céu azul e uma paisagem diferente da que havia na véspera. Resolvemos diminuir o seu conforto para ver se sua preguiça iria embora e você resolveria finalmente nascer. Mamãe trabalhou duro! Foram muitas horas, muitos remédios, a ajuda das enfermeiras e do papai.
Lá do Brasil o vovô e a vovó buscavam notícias pelo telefone, ansiosos, apreensivos. Tia Re também estava nervosa e queria saber o que estava acontecendo. A família daqui telefonava, todos estavam aflitos, querendo que você chegasse.
Como demoramos muito e não progredimos demais, mamãe perdeu as forças e tivemos que tirar você de outro jeito. A cirurgia foi tranqüila e, em poucos minutos, lá estava você, Nicholas, lindo, perfeito, grandão e com muita fome.
Era noite do dia 16 de fevereiro, domingo, e o relógio marcava sete horas e vinte e dois minutos.
Lá de fora a sua amiga Lua olhava tudo e, de certa forma, sorria. Ela sabia que há muitos anos a mamãe havia pedido pra todas as estrelas cadentes para me trazerem você. A Lua não quis saber da história contada pelas estrelas. Ela veio pessoalmente recebê-lo e, brilhante, certamente o abençoou, junto com os anjos e com Papai do Céu, que era quem verdadeiramente estava regendo toda a orquestra. O rastro de prata que a Lua cheia deixava na neve irá iluminar para sempre o seu caminho.
O poeta Fernando Pessoa, lá de Portugal, com o pseudônimo de Ricardo Reis, uma vez escreveu:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.

E assim como a Lua, você chegou enchendo o mundo de luz, nos tornando pessoas melhores, nos fazendo acreditar mais e mais na vida, apostando que o mundo tem jeito e passou a ser mais belo porque você está nele!

Com amor,

Sua mãe

1 comment:

Anonymous said...

Dri, minha amiga tão querida
Por conta do que a vida nos traz de bom e de ruim, por conta das reviravoltas que a minha vida tem sofrido posso dizer que eu me sinto ainda mais perto de vc. Como eu gosto tanto de você e por desdobramento desse menino tão especial chamado Nicholas. Como lutas tanto minha querida e como eu te admiro por isso. Sei um pouco do quanto você precisou ser forte e precisa ainda. Precisará sempre, né? Todos nós precisamos e quanto isto nos custa... nossa! Mas o que importa é podermos contar umas com as outras. E saiba que por aqui, em outro hemisfério tem alguém que sempre pensa muito em vc. Amo vcs dois!
Anie